terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

E as crianças vão a escola - Parte 2

Pois bem, o Tato já estava estudando, se adaptando aos novos desafios e tal e coisa e coisa e tal, mas o Sr. Bielzinho continuava sem ter escola. A diretora fashion das meias coloridas havia nos dado o contato de algumas escolas que ficavam perto do nosso apartamento. Entramos em contato com todas. Uma delas, a que ficava mais longe, claro, nos respondeu falando que, por ser uma escola recém inaugurada ainda tinham vaga. Quase soltei fogos!!!! Conseguir vaga no Dagis aqui pode levar meses!!!! A diretora, uma moça chamada Erika, marcou um horário para que fossemos lá para conhecer a escola e acertar a matricula.

E lá fomos nós... Chegamos no local... o número indicado era o 27, mas.... CADÊ O NÚMERO 27?? Pois bem meus amigos, as ruas aqui seguem a numeração mais esquizofrênica do mundo, mas isso é assunto pra outro dia. Voltemos aos fatos! Já estranhamos ao chegar no endereço, pois não achamos nada que ao menos se parecesse com uma escola. Era um condomínio residencial!!! E pra ajudar existia um prédio com o número 25, uma passagem enorme que dava para um jardim lindo (e com uma tonelada de neve) e para um parquinho e um prédio com o número 29. Existiam nessa passagem algumas lixeiras. Juro que cheguei a pensar que a escola ficava em um esconderijo, tipo a plataforma 9 3/4 do Expresso de Hogwarts do Harry Potter (caso alguém nunca tenha ouvido falar nisso clique aqui). E lá vamos nós procurar a dita cuja da escola. Andamos aquele jardim com neve quase na altura do joelho morro acima, depois morro abaixo, de um lado, do outro e nada. Já estava achando que era pegadinha do Mallandro (yeah, yeah, glu, glu, Sassi Fufu). Enfim, desistimos! 

Vocês devem estar se perguntando: por que esses pangarés não telefonaram pra escola?? SIM, nós telefonamos, mas ninguém atendia!! Quando estávamos quase chegando em casa de volta, a diretora ligou, se desculpando 1000 vezes, por não ter atendido o telefone. Explicamos que não havíamos encontrado o local e agendamos um novo horário para o dia seguinte.

E lá fomos nós para a plataforma 9 3/4 novamente. Dessa vez, descobrimos que aquele parquinho que eu mencionei ali em cima, nada mais era do que o parquinho da escola, que por sua vez ficava embaixo do prédio de número 29 (mas a escola tinha o número 27!!!!). Mais uma pra conta das mancadas dos caipiras. Aqui na Gelolândia é extremamente comum escolas infantis serem instaladas no térreo de prédios residenciais. Vivendo e aprendendo! kkkk

Fomos recebidos pela diretora Erika, uma moça na casa dos seus 27, 28 anos, muito gente boa. Nos mostrou a escola (que por sinal era bem pequena - 2 classes, uma para alunos de 1 ano e meio a 3 anos e outra de alunos de 3 anos e 1 mês a 5 anos. Cada classe tinha uns 15 alunos e 3 professores. A escola tinha refeitório, biblioteca, ateliê, sala de fantasias, mini laboratório e o famigerado parquinho). Nos deu os papéis e nos apresentou as professoras que cuidavam da classe em que o caipirinha mirim ficaria. Como eu disse, eram 3: Pia (sei que vocês estão rindo do nome... EU TAMBÉM RI!), uma senhora na casa dos seus 60 anos, alta magra e muuuuuito engraçada; Monica, uma senhora na casa dos seus 50 anos toda sorridente e a Sarah, uma moça linda, na casa dos seus 30 anos super doce e meiga. Na hora o Biel já curtiu as professoras. Ficamos uma semana acompanhando a adaptação dele (sim pessoas, ficamos eu e o marido - ele nos dois primeiros dias e eu em todos - sentados em uma cadeirinha própria para crianças, todos os dias das 9 as 16hs, durante uma semana sem fazer absolutamente nada!), lá vimos como era a dinâmica, quantas refeições eles tinham por dia (lanche da manhã com fruta, almoço e café da tarde - a criançadinha comia até!!! kkk) e tudo mais.

O Biel amou a escola, conseguiu fazer amigos com facilidade e se adaptou muito bem. Graças a Deus, pra melhorar mais as coisas, apareceu uma professora finlandesa chamada Riika (com dois is mesmo) que falava PORTUGUÊS!!! Mas isso e as minhas aventuras no Jardim da Infância são assuntos para um próximo post...

  
Escola da plataforma 9 3/4 também conhecida como Kista Gårds Förskola

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

E as crianças vão a escola!!!! Parte 1

"A Educação qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática."
Paulo Freire 

Amadinhos, pois bem... Já havíamos chegado, feito compras, brincado na neve, assustado com o escuro, dentre outras coisas legais. Mas a vida tinha que começar, afinal de contas isso não é uma viagem de ferias, né? Os meninos precisavam ir pra escola! Você pode estar se perguntando: Por que essa doida está tão preocupada com escola??? É janeiro, mês de férias escolares! Pois bem... Aqui não é assim. Janeiro é mês letivo aqui. Existe apenas um recesso entre o Natal e Ano Novo, nada mais. Férias mesmo é só no meio do ano (O ano letivo aqui vai de agosto a junho e não de fevereiro a dezembro como ai no Brasil). O ano letivo estava a todo vapor e MEUS FILHOS PRECISAVAM ESTUDAR!

Antes de me aventurar, já tinha pesquisado algumas coisas acerca do sistema de educação daqui. Sabia que a educação aqui é obrigatória a partir dos 7 anos. Que toda criança tem direito a uma vaga na escola. Que as escolas, em sua maioria são públicas e de qualidade, mas não sabia como seria tudo isso na pratica.

Ficava me questionando: Como vai ser??? Meus filhos vão se adaptar??? Vão fazer amigos??? Como eles vão entender a matéria, se a aula é dada nessa língua esquisita e morfética??? Eles vão ficar bem??? Confesso que estava em pânico! Mas tínhamos que enfrentar. Comecei a pesquisar escolas perto da nossa "casa provisória". Achei duas. Mandamos e-mail para ambas. Fomos prontamente atendidos pela mais próxima. A diretora foi que respondeu. Disse que a vaga do Tato estava garantida, mas que ela ainda não poderia matricular o Biel lá. Disse que ele teria que ir para o Dagis (pre escola daqui) e que talvez precisássemos entrar numa fila de espera. Já marcou uma reunião conosco para  2 dias depois, afim de nos apresentar a escola e efetivar a matricula.

E lá vamos nós, no dia marcado, conhecer a dita cuja escola. Primeiro eu fiquei assustada... Como isso pode ser uma escola??? Cade os muros??? Por que todas as salas de aula tem uma porta que dá para o Pátio??? Por que QUALQUER PESSOA circula pelas dependências externas da escola sem nenhum problema? Essas crianças estão ai todas soltas... Quem garante que elas não vão simplesmente matar aula??? Era tudo tão diferente... A caipira aqui estava chocada com tamanha modernidade!

Fomos atendidas pela vice-diretora. Ann-Katrinn. Uma senhora na casa dos seus 60 anos, super descolada! Ela estava vestindo saia preta, blusa, casaquinho, meia calça e bolsinha LARANJA. Super curti e gostei dela logo de cara! Ela nos explicou tudo em inglês. Explicou como funcionava o sistema educacional na suécia, explicou sobre como seria a aplicação de tudo isso para o Tato, que não sabia ainda falar nem sueco, nem inglês, nos explicou sobre o ensino da língua mãe (sim, o governo sueco oferece a toda criança estrangeira ou de origem estrangeira um professor de língua mãe, no caso, o nosso bom e velho português - IGUALZINHO NA TERRINHA!!! KKKK - Saiba mais sobre tudo isso AQUI), preenchemos e assinamos um monte de papeis e voltamos pra casa, com a promessa de que ela nos contactaria assim que ele pudesse começar a frequentar as aulas.

Dois dias depois, recebemos um email da nossa diretora das meias coloridas agendando outra reunião para que nós e o Tato pudéssemos conhecer e conversar com as professoras e com toda a equipe pedagógica da escola. Disse também que, para facilitar para a gente, ela havia solicitado um interprete. Interprete??? Como assim???Pois é meu povo e minha pova, aqui, por não falarmos ainda essa língua dos infernos, temos direito a solicitar interprete "de grátis" para nos acompanhar em órgãos públicos, escolas, médico... Confesso que super gosto disso, mas fiquei bem surpresa quando soube de mais essa "facilidade fornecida pelo governo gelolandês". No dia marcado, lá fomos nós pra escola. Família buscapé completinha! Fiquei até encabulada! Estavam na sala a nossa espera a Ann-Katrinn (usando meia calça roxa dessa vez), a Kristiina (com dois is mesmo) que seria a professora titular do Tato; a Mariana que seria a professora de Educação Física (que eles fazem num ginásio modernéééérimo que fica do lado da escola); a Suvi, que seria a professora especial para ensino de língua sueca, o interprete, um português engraçado que já morou no Brasil e a Anette, a enfermeira da escola. Sim, enfermeira... Mas minhas aventuras com ela e sua função na escola e na saúde infantil como um todo serão narradas num outro post.

Conversaram bastante conosco, principalmente com o Tato. Aqui a criança é ouvida, por vezes até demais (vai ter post sobre isso também). Perguntaram pra ele do que ele gostava e não gostava na escola; em qual matéria ele se dava melhor; que esporte ele gostava de praticar... Tentaram nos deixar bem tranquilos com relação ao aprendizado deles, uma vez que eles estavam habituados a lidar com crianças estrangeiras. Deram pra ele uma pequena avaliação de escrita e matemática e nos levaram pra conhecer a sala em que ele iria estudar. Ele, apesar de ter idade para cursar a 3. série, ficaria, primeiramente, numa sala mista. Dependendo de seu desempenho, ele seguiria a turma de sua idade. Chegamos na sala...gente... foi impressionante e EMOCIONANTE ver como as crianças reagiram ao ver o Tato na sala. Já estava tudo organizado pra chegada dele! Ele já tinha uma carteira com nome dele e onde já estavam guardados todos os seus materiais. E as crianças haviam feito um cartão de boas vindas pra ele. Esse cartão era, nada menos que A BANDEIRA DO BRASIL, onde todos assinaram e deixaram uma mensagem de boas vindas. Entregaram também uma foto oficial da sala, também com mensagens de boas vindas. Respirei aliviada ao ver o sorriso no rosto dele. As crianças se aproximaram, queriam ele por perto. Foram muito receptivas! Ele estava feliz e relaxou. 

Fui pra casa leve, pois meu coração de mãe sabia que ele iria ficar bem. E quanto a comunicação dele... ele, logo nos primeiros momentos fez amizade com um menino... Um colombiano que o ajudava na comunicação. Ele estava seguro... Ia ficar tudo bem...

O Tato estava arranjado... Ainda faltava o Biel... (continua...)


Igelbacksskolan